Património
Na histórica Calçada do Combro, no coração de Lisboa, ergue-se um conjunto patrimonial que conta uma história de resiliência, fé e criatividade. Este património não é apenas um reflexo da arte e arquitetura das épocas em que foi concebido, mas também uma crónica das provações e desafios enfrentados pela cidade e pela sua comunidade. Desde a destruição causada pelo Terramoto de 1755 até aos desafios contemporâneos de preservação, cada elemento deste conjunto carrega as marcas da passagem do tempo, convidando-nos a explorar não apenas o que foi preservado, mas também o que pode ser revitalizado para o futuro.
A Igreja de Santa Catarina, um exemplo magnífico do estilo barroco e rococó, é um monumento de devoção e beleza artística. O Mosteiro do Santíssimo Sacramento, outrora casa de eremitas religiosos, reflete a importância da vida monástica no passado de Lisboa e a sua adaptação aos novos tempos. Por fim, o Órgão de Tubos, uma obra-prima musical e artística, é um símbolo da riqueza espiritual e do esplendor litúrgico da igreja, mesmo quando permanece silencioso, à espera de ser restaurado.
A Igreja de Santa Catarina, localizada no coração de Lisboa, é um marco histórico e religioso que testemunha séculos de fé e devoção. Conhecida pela sua arquitetura imponente e pelos detalhes artísticos que a adornam, esta igreja é um símbolo da herança cultural da cidade.
A Igreja de Santa Catarina, outrora designada Igreja do Santíssimo Sacramento, é um testemunho marcante da arquitetura religiosa barroca de Lisboa. Fundada em 1654 pelos religiosos de São Paulo da Serra de Ossa, foi erguida junto ao Convento dos Paulistas, numa harmonia arquitetónica que reflete a espiritualidade e o rigor artístico da época. Após o devastador Terramoto de 1755, a igreja foi reedificada, tendo a sua reconstrução sido concluída em 1763. Em 1835, passou a desempenhar o papel de igreja paroquial, sob a invocação de Santa Catarina.
Esta igreja conventual, de planta longitudinal em cruz latina, destaca-se pela sua estrutura integrada com o convento, formando um conjunto em forma de U. Com uma nave única, capelas laterais, transepto saliente e uma capela-mor profunda, a Igreja de Santa Catarina impressiona pela sua grandiosidade e detalhes arquitetónicos.
A fachada principal é composta por três corpos bem definidos, separados por pilastras duplas, com o corpo central a exibir dois andares, rematados por um frontão curvo decorado com a Custódia do Santíssimo Sacramento. Nas laterais, as duas torres sineiras, adornadas com balaústres, reforçam a imponência do edifício. No piso térreo, a galilé, acessível por três arcos de volta inteira, convida à entrada, enquanto o portal central, flanqueado por pilastras e coroado por um frontão triangular, exibe a Custódia em relevo como símbolo central.
No interior, a Igreja de Santa Catarina revela um esplendor artístico único. A talha joanina do altar-mor é um dos seus maiores destaques, acompanhada pela beleza do órgão, uma obra-prima de talha dourada. Os estuques ornamentais, que revestem a abóbada de arco abatido da nave, são outra preciosidade, datados do terceiro quartel do século XVIII e executados pelos mestres João Grossi e Toscanelli.
Este monumento é muito mais do que um local de culto; é um espaço onde a história, a arte e a fé se entrelaçam, oferecendo aos seus visitantes uma experiência única de espiritualidade e contemplação.
Adossado à Igreja de Santa Catarina, o Mosteiro do Santíssimo Sacramento foi um refúgio espiritual para os eremitas da Ordem de São Paulo Primeiro Eremita. Fundado em 1647, o mosteiro testemunhou momentos marcantes da história de Lisboa, desde o Terramoto de 1755 até à extinção das ordens religiosas em 1834. Informação e fotografias originais disponíveis aqui.
O Mosteiro do Santíssimo Sacramento, fundado em 1647, foi originalmente concebido como um refúgio espiritual para os eremitas da Ordem de São Paulo Primeiro Eremita. Durante séculos, foi um centro de devoção e tranquilidade, profundamente integrado na vida religiosa de Lisboa.
Construído sob a orientação de Frei Diogo da Ponte, o mosteiro acolheu os primeiros religiosos em 1649. Com a conclusão da igreja em 1654, tornou-se um centro espiritual de grande importância.
Em 1755, o Terramoto causou danos graves à estrutura, destruindo a abóbada de pedra. Durante a reconstrução, Giovanni Grossi foi responsável pela decoração monumental em estuque, que ainda hoje embeleza o templo.
A extinção das ordens religiosas em 1834 marcou o fim da vida monástica no mosteiro. O edifício foi adaptado para novas funções, incluindo tribunais e serviços militares.
Atualmente, as dependências do mosteiro acolhem o Comando Territorial de Lisboa da GNR, mas o espaço mantém vestígios do seu passado religioso, como o antigo claustro e os corredores revestidos com azulejos seiscentistas.
O Mosteiro do Santíssimo Sacramento é um exemplo da resiliência e adaptabilidade do património histórico, preservando a sua essência enquanto se transforma para responder às necessidades da modernidade.
O órgão de tubos da Igreja de Santa Catarina é uma obra-prima do início do século XVIII, que enriqueceu as cerimónias litúrgicas da sua época. Sobreviveu ao Terramoto de 1755, mas enfrenta agora os desafios do tempo e da negligência, permanecendo silencioso desde os anos 1950. Veja a notícia original e as fotografias aqui.
No interior da majestosa Igreja de Santa Catarina, encontra-se um dos mais impressionantes exemplos de património musical e artístico de Lisboa: o órgão de tubos. Construído no início do século XVIII, este instrumento não é apenas uma ferramenta litúrgica, mas também uma obra de arte que testemunha a grandiosidade da música sacra e da devoção religiosa do seu tempo.
Com uma caixa de madeira adornada em talha dourada e tubos que se elevam como pilares sonoros, o órgão de Santa Catarina acompanhou cerimónias litúrgicas da Ordem dos Paulistas e encantou gerações com a sua presença e música. Apesar de ter sobrevivido a catástrofes como o Terramoto de 1755, enfrenta hoje desafios que colocam em risco a sua herança cultural.
Uma Obra de Excelência: O órgão foi construído no início do século XVIII, provavelmente entre os anos 1710 e 1720, como um típico órgão ibérico, conhecido pela sua riqueza sonora e funcionalidade litúrgica. Caracterizava-se pela complexidade dos seus registos e pela sonoridade vibrante, com destaque para as cornetas, típicas deste tipo de instrumento.
A sua caixa de madeira esculpida é uma obra-prima por si só, revestida com talha dourada de uma riqueza ornamental que reflete o apogeu da arte barroca portuguesa. Cada detalhe, desde os motivos florais até às colunas decorativas, foi meticulosamente trabalhado para integrar o órgão na estética geral da igreja, tornando-o uma peça central do espaço litúrgico.
Resiliência ao Terramoto de 1755: Apesar da destruição generalizada causada pelo Terramoto de 1755, o órgão de Santa Catarina resistiu. Elementos essenciais, como os tubos da fachada e a sua imponente caixa de madeira, mantiveram-se intactos, demonstrando a robustez do seu design e a qualidade dos materiais utilizados. Esta sobrevivência tornou o instrumento num símbolo de esperança e perseverança para a comunidade local.
Adaptação ao Longo dos Séculos: No século XIX, o órgão foi alvo de uma reforma significativa, adaptando-o ao estilo romântico, em linha com as tendências musicais da época. Esta transformação alterou alguns dos seus registos e características originais, mas preservou a essência do instrumento. Durante décadas, continuou a desempenhar um papel central nas cerimónias da igreja, elevando a experiência espiritual dos fiéis.
Apesar do seu esplendor histórico, o órgão entrou em declínio no século XX, devido à falta de manutenção regular. Desde os anos 1950, o instrumento permanece silencioso, aguardando uma restauração que devolva a sua voz à igreja. O órgão de Santa Catarina continua a impressionar visitantes e especialistas, permanecendo como um símbolo da resiliência do património cultural. A sua restauração seria não apenas um tributo ao passado, mas também uma oportunidade de devolver vida e música a um dos mais icónicos instrumentos da cidade.
Ajude-nos a preservar a nossa história e o nosso património. O Centro Social e Paroquial de Santa Catarina Lisboa continua a sua missão de proteger e transmitir a herança espiritual e cultural deste bairro único. Com o seu apoio, poderemos garantir que este património seja apreciado pelas gerações futuras. Junte-se a nós nesta missão de preservar o passado para enriquecer o futuro.